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Crianças que respiram pela boca e as alterações na aprendizagem

 Por Sergio Duarte Junior

A aprendizagem da criança pode ser prejudicada por doenças que provocam a congestão e/ou obstrução nasal. A congestão nasal é um sintoma clássico da rinite alérgica e a obstrução nasal é um sintoma da hipertrofia das tonsilas faríngeas (adenóides). Durante a rinite alérgica ocorre a congestão dos tecidos cavernosos e das conchas nasais e, em conseqüência, obstrução nasal. Já na hipertrofia das tonsilas faríngeas ocorre a obstrução do espaço nasofaríngeo.

O padrão de respiração parcial ou total pela boca forma um conjunto de sinais e sintomas, denominados de Síndrome do Respirador Oral – SRO. As conseqüências mais comuns se relacionam com alterações na região craniofacial, alterações na postura, alterações musculares e problemas neurológicos. A respiração oral e a dificuldade no aprendizado podem se associar à incapacidade do aluno em se concentrar em uma tarefa. A má qualidade do sono é um fator que contribui para que o respirador oral apresente problemas de atenção, pois as sucessivas noites mal dormidas provocam sonolência e cansaço, ainda, em alguns casos, ansiedade, impaciência e agressividade pelo esforço que a criança faz para tentar manter-se acordada.  

Essa dificuldade em se concentrar pode sugerir alterações fisiológicas em regiões específicas do córtex envolvidas na manutenção dos ciclos da vigília e da atenção. Alguns estudos sugerem uma associação entre alterações neurofisiológicas a partir da modificação dos níveis de oxigênio em determinadas áreas cerebrais. Os mecanismos neurofisiológicos se dão, basicamente (mas não apenas), por respiração oral, a apnéia (respiração é repetidamente interrompida e retomada, de forma total) e a hipopnéia (de forma parcial) podem levar a pessoa à hipoxemia (insuficiência de oxigênio no sangue).

Embora não existam estudos que indiquem a prevalência da hipertrofia das tonsilas faríngeas, sabe-se que a cirurgia para a extração das adenóides é um dos procedimentos cirúrgicos mais realizados no mundo, nas últimas décadas.

Para citar alguns exemplos de estudo, Godoy (2003), Leal (2004) e Silva (2005) estudaram um grupo de alunos de terceira, quarta e quinta séries com hipertrofia das tonsilas faríngeas e rinite alérgica. Os alunos com hipertrofia das adenóides apresentaram maiores dificuldades que os colegas de classe na escrita, na resolução de problemas e de operações de matemática. Por outro lado os respiradores orais com rinite alérgica, somente na escrita. Com isso, diferenças entre as doenças obstrutivas podem ter diferentes repercussões na aprendizagem escolar. Como hipótese para isso, a hipertrofia das tonsilas provoca uma obstrução nasal permanente e a rinite alérgica uma obstrução sazonal. Talvez seja por isso a ocorrência de uma maior dificuldade de atenção e de aprendizagem das crianças com hipertrofia das adenóides.  

É possível que o baixo desempenho escolar, observado nas crianças respiradoras orais tenha relação com a sonolência diurna, dificuldade de atenção, os prejuízos auditivos, orofaciais, e com outros problemas neuropsicológicos provocados pelas doenças obstrutivas. Uma avaliação sensível e que englobe diferentes variáveis inerentes ao desenvolvimento infantil é indicada. Identificar de forma assertiva (e precoce) alterações que possam prejudicar o desenvolvimento da criança contribui para a escolha do tratamento adequado.

 

GODOY, M. A. B. Problemas de aprendizagem e de atenção em alunos com obstrução das vias aéreas superiores. 2003. 123 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2003.

LEAL, L. D. A hipertrofia das tonsilas faríngeas e suas repercussões na atenção e na aprendizagem escolar. 2004. 77 f. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2004.

SILVA, M. D. dos S. Problemas de aprendizagem em escolares com rinite alérgica. 2005 104 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2005.

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