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Idoso esquecido e triste: normal da idade ou pode ser doença?

Por Murilo Zibetti

Essa é uma pergunta que comum entre os filhos e cuidadores de idosos.  A verdade é que essa é uma questão muito complexa e apenas um exame clínico e neuropsicológico detalhado poderá nos fornecer uma resposta adequada. Mas, via de regra, o idoso saudável tende a ser feliz, esperançoso e ativo; dessa forma a perda de memória associada ao envelhecimento saudável não repercute em prejuízo nas atividades do dia-a-dia. Portanto, se você já a está percebendo essas dificuldades, isso é sinal de que uma avaliação é recomendada.  Além disso, a pergunta consta com dois sintomas diferentes: o esquecimento e a tristeza. Cada um deles pode ser indicativo de diferentes doenças.  Mas, quais as doenças podem estar relacionadas a essa perda de memória e o sentimento de tristeza?

Existem diversas doenças relacionadas a elas, desde doenças potencialmente tratáveis como a hipotireoidismo e carência vitamínicas (particularmente, B12). Mas, quando excluídas as hipóteses iniciais e clínicas básicas e não se encontra a resposta para o problema, é preciso avançar para uma compreensão aprimorada das dificuldades cognitivas através de uma avaliação neuropsicológica completa. Nesse caso, o neuropsicólogo clínico trabalhará realizando testes, entrevistas e questionários para averiguar a possível origem e, principalmente, a intensidade das dificuldades. Os casos mais frequentes que chegam ao consultório envolvem o diagnóstico diferencial entre transtorno depressivo maior (depressão) e transtorno neurocognitivo maior devido a doença de Alzheimer (demência de Alzheimer).

A depressão é conhecida como o mal-do-século. Atualmente, é uma das principais causas de afastamento do trabalho. Essa doença atinge uma grande parte da população pelo menos alguma vez durante o transcorrer da vida. Em idosos, fatores ambientais (ex.: morte de companheiro, aposentadoria) e constitucionais (histórico prévio da doença, suscetibilidade, modo de pensar) e implicam em casos de depressão muito frequentemente. Os principais sintomas da depressão envolvem tristeza, alterações do sono, de apetite e, principalmente, desesperança. Além disso, em todas as faixas etárias, a depressão pode resultar em  dificuldades cognitivas (velocidade de processamento, atenção, memória episódica e iniciativa). No caso de idosos, as dificuldades cognitivas podem ser ainda mais aparentes uma vez que se somam as dificuldades naturais  do envelhecimento.

A demência devido a doença de Alzheimer, também afeta idosos. Mas se trata de uma doença neurodegenerativa. Usualmente, a doença começa afetando áreas responsáveis pela capacidade de formar novas memórias. Essas dificuldades chegam ao nível de prejudicar as atividades do dia-a-dia. Eventualmente, alguns idosos com Alzheimer, também apresentam alterações de comportamento, menor iniciativa, alteração da concentração e sinais de tristeza. Mas, isso também não vale para todos os casos.Entretanto, como se pode perceber, a tristeza, o esquecimento e outros sintomas são comuns nas duas doenças e é por isso que uma avaliação é recomendada. O diagnóstico preciso é fundamental, pois embora ambas acometam o cérebro e as funções mentais, apenas a DA tem um caráter progressivo e neurodegenerativo. Ou seja, diagnosticar bem é essencial pois o tratamento é bastante diferente entre as condições e as dificuldades cognitivas resultantes da depressão são potencialmente reversíveis depois do tratamento. Em alguns casos, mesmo com a avaliação, pode haver a dúvida sobre a presença de ambas as doenças.  Nessa caso, o profissional indica ambas as possibilidades, o tratamento inicial foca na depressão e é realizado um acompanhamento longitudinal do paciente para averiguar sua resposta ao tratamento e a progressão ou não das dificuldades de memória.

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